CAPÍTULO I – Solitário.
“Muitas vezes nos
sentimos sozinhos nesse mundo. Existe tanta gente à nossa volta, mas ninguém
parece se importar conosco. Por isso temos a tendência de nos tornamos pessoas
tristes, ou solitárias em vários momentos da nossa vida. Mas a solidão, é só um
estado psicológico. A solidão é apenas o medo de viver.”
Chamo-me Oliver, ou Ollie, como todo mundo
me chama. Sou um adolescente de 16 anos e estou no segundo ano do ensino
fundamental, na escola. Sou um bom aluno. Gosto muito de estudar e ajudar meus
amigos na escola. Tenho bastante amigos na verdade. Tenho 13 irmãos, mas moro
apenas com minha mãe e uma sobrinha. Posso dizer que tenho uma vida normal. E
me considero um rapaz feliz. Tenho namorada e sou religioso também. Meus amigos
às vezes acham que sou certinho demais por seguir* minhas crenças tão a sério.
O que posso dizer? A religião tem que fazer parte da vida de alguém realmente
feliz. Apenas conhecendo a Deus podemos conhecer a verdadeira felicidade.
Porém essa não é a minha história. É a
historia de um amigo meu. Um amigo muito especial. Alguém que passou por minha
vida por pouco tempo. Mas que me deu muitos momentos bons. Seu nome era Téo.
Isso era tudo que eu sabia a seu respeito. Mas logo isso mudaria. Logo nos
tornaríamos amigos muito próximos.
Aquele era o primeiro ano de Téo na minha
escola. Ele havia sido transferido de uma escola em outra cidade. Téo deveria
ter seus 16 anos também. Tinha cabelos claros. Mas não loiros. Em seu rosto
tinha marca de espinhas as quais ele possivelmente estava tratando agora. Ele
tinha olhos verdes e um belo sorriso. Embora desde que o conheci só tenha visto
um breve sorriso em seu rosto, quando esse se apresentou oficialmente pra a
sala. Ele não era de falar muito. Apenas se dirigia educadamente com as pessoas
que fossem até ele e falava com o professor sempre que esse apresentasse alguma
questão na lousa negra. Era inteligente. Diria até que o mais inteligente de
toda a classe.
Muitos tentaram se aproximar. Mas ele às
vezes parecia antissocial. Era educado sim, mas tinha certo medo, ou receio de
se envolver com os outros alunos. Não praticava esportes, mas até que se saia
bem na aula de Educação Física. Na verdade ele tinha corpo de alguém que faz
academia. Quando era convidado pra trabalhar em grupo, se mostrava a todos um
líder nato. Muitos se perguntavam: _Ele
é tão bom, por que precisa ser assim?
Apesar da falta de aproximação dele em
relação aos outros alunos, eles o admiravam e gostavam de estar com ele quando
esse o permitia. Na verdade até eu o fazia. Algo nele, me fazia querer
conhece-lo mais. Era um sentimento estranho de querer conversar, “proteger”,
animar e estar sempre junto. Talvez fosse só a curiosidade que temos por tudo o
que é novo. Nunca senti algo igual, nem pela minha própria namorada quando a
conheci.
Era um sentimento que
temos por um irmão menor talvez. De querer ajuda-lo a vencer os desafios da
vida. Como se pudéssemos mudar a vida de outros, ou guia-los à nossa maneira.
Particularmente eu não sabia o que me chamava tanta atenção naquele rapaz. Mas
brevemente descobriria a razão.
Como as aulas haviam acabado de iniciar-se
aquele ano os professores estavam a
procura de um representante para a sala. Eu estudo em uma escola publica e nem
sequer temos um grêmio estudantil. Mas sempre tínhamos alguém na sala para nos
representar. Tivemos uma breve votação e eu acabei ganhando junto com ele. Na
verdade acabamos empatando nos votos então o professor decidiu que ambos
deveriam se tornar representantes da sala devido ao nosso comportamento e
participação nas aulas. Eu seria o Titular e ele o vice. Foi algo que me
agradou de certa forma. Finalmente poderia conhecê-lo melhor e ser seu amigo.
Poder ajuda-lo a ter mais amigos era a minha principal meta para ele.
Infelizmente, parece que não tínhamos os mesmos objetivos. Téo não queria fazer
amigos. Téo não queria ser mais que um “observador.”
(... ... ...)
Descobri que Téo na verdade estava passando
por um tipo de depressão. Ele conseguia fazer todas as coisas, simplesmente
para que as pessoas a sua volta não se deprimissem também. Ele queria
simplesmente proteger todas à sua volta, de sua própria desgraça. De sua
própria desolação. E de todas as coisas ruins do mundo. Ele tinha passado por
momentos bem difíceis ultimamente. Depois de mais ou menos um mês e meio eu
descobri isso. Depois desse período de tempo eu conquistei a confiança desse
novo amigo.
Téo havia sido mudado de cidade pelo
seguinte motivo: Seus pais estavam se separando. Eles já não estavam bem fazia
algum tempo. Téo tinha um irmão de 19 anos que sofrera bastante com a situação
também. No meio das brigas o pai de Téo joga na cara da mãe que esse não seria
seu filho. Que ela o havia traído com o primo dela, e do fruto dessa traição
nascera o rapaz. Entretanto a mãe do rapaz sempre desmentia o marido, dizendo
que isso nunca aconteceu. Que ela era fiel. Que jamais seria capaz de cometer
tal traição.
No meio de tantas brigas e discursões
diárias o irmão de Téo que se chamava Philip ficou com seu psicológico bastante
abalado. Apesar de mais velho. Philip era bem mais sensível. Então depois da
separação o rapaz ficou depressivo e teve que passar em alguns médicos e
começou a tomar remédios para a doença. Ele ficou em um estado muito grave e
certa vez até tentou o suicídio. O pai resolveu voltar pra casa, mas aquilo na
verdade não ajudou. Ele continuou com os ciúmes e as brigas estavam voltando a
reinar ali no lar. Mas uma vez ele resolve ir embora. Mas antes disso acontecer
o pai tentou agredir a mãe então Téo se colocou na frente da mãe dele pra impedir.
E como era um rapaz forte pode defender a mãe do agressor. Porem aquilo também
abalara a mente de seu irmão. Philip tentou matar o irmão em uma de suas crises
e assim como o pai jogou na cara de Téo que ele era um bastardo e que por culpa
dele seus pais se separaram e aconteceram todas aquelas tragédias em suas
vidas.
Obviamente Philip fez tudo aquilo devido à
doença. E ele estava em um estado tão grave que começou a atacar também a sua
mãe e qualquer outra pessoa que se aproximasse dele. Naquele estagio da doença
só restava mesmo a internação. E foi o que aconteceu com o irmão do coitado.
Aquilo foi uma tragédia ainda pior na vida de Téo. E ele apesar de saber no seu
intimo que era inocente e que sua mãe era uma mulher fiel, também acabou se
culpando pelo que aconteceu.
Foi a vez de a sua mãe entrar em começo de
depressão. Ela tinha tremedeiras às vezes de tanto que chorava durante o dia
por ter perdido seu marido e seu filho de forma tão triste. Um deles (o marido)
simplesmente estava perdido no mundo. Soube-se até que a usar drogas, e o filho
coitado internado em uma clinica sem nenhuma expectativa de alta por pelo menos
alguns meses. E como se não bastasse a sua sogra a estava infernizando e
culpando por todo o mal da vida dos familiares. Mas o pior de tudo é que
realmente ela era inocente de todas as acusações feitas pelo marido.
Téo passou por tudo aquilo calado. Nunca se
colocou contra o pai ou a mãe. Realmente só interferiu pra defendê-la. Ele
também sofria. Mas tudo isso calado. Não queria trazer mais desgraça pra a vida
de sua família, que já era tão sofrida. Mas por dentro ele também estava
sofrendo bastante. Tanto que perdera a
capacidade de sorrir. Téo agora vivia apenas pra proteger sua mãe e cuidar de
seu irmão internado. Ele tinha responsabilidades de adultos. Ele tinha que
preservar a tranquilidade de sua família. A pouca tranquilidade que lhe restara
diante de toda aquela situação. Ele estava triste e solitário por dentro. Mas
não tinha o direito de entrar em depressão. Não tinha o direito de fazer mais
ninguém sofrer. Ele era a única pessoa que mantinha seu lar de pé. Se ele
entrasse em depressão também, seria o fim para aquela família.
Téo então passou a ser um rapaz antissocial.
Por ter medo de se envolver com as pessoas. Ou de envolvê-las em sua vida Téo
se fechou em seu mundo. Apenas para permitir aos outros viverem de forma feliz.
Para ele a única coisa que importava era o bem estar de seus familiares. Ainda que
isso custasse o seu próprio bem estar. Ainda que ele fosse acabar sofrendo todo
o peso do mundo em suas costas por tomar essa decisão. Ele jamais iria permitir
que ninguém chorasse por ele, nunca mais.
Por
isso ele tinha que ser o melhor filho, o melhor irmão, o melhor aluno na
escola. O melhor em tudo, pra poder dar um pouco de alegria à sua triste e
deprimida família. Ser solitário pra ele não era uma opção. Era uma realidade humildemente
aceita. Uma punição que ele mesmo se deu por ter estragado a vida de seus
familiares. Sim. Embora ele não demonstrasse pra ninguém o seu sofrimento, o solitário
rapaz estava prestes a cometer uma loucura em sua vida. Sim. Estava prestes a
surtar de vez.
Por isso muitas vezes eu penso. Como sou
grato por conhecer a verdadeira felicidade! A qual só vem de conhecer Deus e
seu filho Jesus Cristo como o único caminho pra ser feliz. Como sou grato por
poder levar minhas crenças adiante. Por isso também sou grato por tê-lo
conhecido. Por tê-lo ajudado e por ter sido ajudado por ele também durante o
tempo em que estivemos juntos. Como sou grato por tudo que tenho vivido!
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