CAPÍTULO 3. Diagnóstico
_Acorda! Acorda!
Acordaaaaaaaaaaaaaaaaa!
Mais uma vez Diogo Rafael acorda assustado,
mas dessa vez não no conforto de sua casa. Ele esta deitado em um chão duro e
gelado. Seu relógio biológico o avisara de que devia ser pelo menos seis e meia
da manha. Algo que fora confirmado ao erguer um pouco a cabeça e ver o relógio
da escola que era a única coisa a quebrar o silencia daquele incomodo lugar.
Diogo se recompõe do susto e levanta com certa dificuldade devido à noite
inesperada que tivera. Ele nesse momento sente um misto de raiva, tristeza, desprezo
e solidão. Ele não achava que, realmente seria abandonado as moscas se passasse
um dia por tal situação. Coloca a mão no ombro e sente uma leve dor como se um
mosquito o houvesse picado. Ele teme que possa ter sido algum inseto venenoso,
azarado como era não iria se admirar de ser picado por um escorpião.
Mas pensa melhor. Não. Se fosse ele estaria
morto agora. Era realmente uma situação inusitada, inimaginável e
constrangedora:
_Porcaria de vida! Esbraveja.
_Caramba são seis e meia se meu irmão perceber que eu dormi fora de casas aí
sim eu morro de verdade.
O rapaz pega seu material e corre pra fora da sala. Os muros estão
fechados Felizmente já era sábado e ele evitaria maiores constrangimento.
Imagine só ter que explicar pra as pessoas por que ele dormira na escola. Ou
pior explicar como ele pode ter desmaiado no meio da aula sem ninguém perceber.
No caminho de volta pra casa ele acaba se
esquecendo dos garotos da rua que o perseguiam sempre. Então esses resolvem
ataca-lo com tudo. E esse dia eles tinham frutas e verduras podres as quais
começaram a lançar sobre o rapaz. Se ele não estivesse tão distraído teria
inventado uma forma de evitar tudo isso, coitado. Pobre rapaz além de ter uma
noite terrível e humilhante agora estava começando o dia de uma forma nada agradável.
Os sentimentos de revolta, humilhação, tristeza, ódio e dor agora o confundiam
ainda mais.
Finalmente ele chega a
casa e vai direto ao quarto do seu irmão que estava dormindo um sono profundo. O
coitado do irmão nem m mesmo tinham tirado a roupa de trabalho e Diogo Rafael
não sabia se ficava feliz ou triste por seu irmão sequer ter notado que ele
dormira fora de casa aquela noite. Agora a única coisa que ele deseja é dormir
um pouco em sua própria cama e tentar esquecer o pesadelo vivido. Dirige-se ao quarto,
mas ao passar pela cozinha vê um recado na geladeira. Seu irmão o estava relembrando
que naquele fim de semana Diogo deveria se encarregar da limpeza da casa:
_Pata que Paréu!!
Grita com medo de acordar o irmão. Mas corre ate lá e o irmão continua em seu
sono pesado. Diodo não gostava de incomodar seu irmão, pois ele fazia de tudo
para lhe dar o melhor, e o mínimo que Diogo podia fazer era ajuda-lo nas
tarefas de casa e não atrapalhar o seu sono. Pro rapaz, só restava arrumar sua
casa...
Diogo apesar de
exausto e com dores nas costas pela noite mal dormida simplesmente começa a
limpar tudo mecanicamente, mas uma vez rodeado por uma grande turba de
pensamentos. Depois de algumas horas ele finalmente consegue terminar de limpar
tudo e fazer alguma coisa para o almoço. Aquele era o único tempo que ele e o
irmão tinham para conversar sobre a vida. Na verdade era o tempo que eles mais
curtiam juntos. Ronaldo falava sobre emprego sobre mulheres sobre sexo e às
vezes ate bebiam juntos algumas cervejas ou saiam par a jogar futebol. Tinham
um relacionamento muito bom. Faziam aquelas brincadeiras bobas de irmão,
ficavam xingando um ao outro e depois estavam abraçados e dizendo que se amavam
e eram gratos por serem irmãos. Porem naquele dia não seria assim. Diogo estava
tão exausto que dormira ali mesmo na mesa. Seu irmão acorda vai ao banho volta
e ainda o encontra com a cabeça debruçada sobre a mesa. Aproxima-se e tenta
acorda-lo com uns cascudos.
_Acorda moleque. _Fala
ainda dando os cascudos no irmão.
_Ah, não me deixa
dormir mais um pouco.
_Chega moleque? O que
andou fazendo? Passou a noite se masturbando e agora esta sem energia?
_Quê? Claro que não!!
Diogo agora se levanta
meio desconfiado e constrangido a ponto de deixar a sua cara ainda mais vermelha.
_Ha há há há há você
sempre cai nessa! O que tá acontecendo maninho?
_Nada não maninho, só
estou cansado por que... Por que... É que... Esta tendo muito trabalho na
escola.
_Sei, está pegando
alguma mina lá né, Tigrado?
_Não!!!
_Ha ha há há
,escondendo o jogo em garanhão?
_Claro que não! Eu bem
que gostaria, mas...
_Ah, vai, ficou um
gatão sem óculos! Hahaha... E aí quando pega seus óculos novos?
_Eles disseram que
estariam prontos na semana que vem
parece que tiveram problemas com os fabricantes
_E os exames esta
fazendo check up completo mesmo?
_Sim. Por enquanto tá
tudo okay
_Caramba! Você acaba
de me lembrar que eu tenho hora marcada hoje com o oftalmologista. Parece que
eles querem me indicar alentes de contatos além dos óculos
_Mas lentes não são muito
caras?
_ Eles falaram algo
sobre lentes de graça quando fiz o exame pra os óculos. Eu não entendí nada ,
vão me explicar melhor hoje eu acho. Espero que dê certo, deve ser legal usar
lentes.
_ Aí safado, vai pegar
todas as gostosa da sua escola né?
_Para com isso! Mas e
você como vai indo com a Ana clara?
_A gente tá bem. Outro
dia eu gastei um pacote inteiro de camisinha com ela. _Cara, você só pensa em sexo,
é? Você vai fazer hora extra hoje também?
_Sim vou cobrir um
amigo esta tarde, sacumé... Fim do mês as coisas ficam complicadas. Mas não
pretendo fazer isso todo sábado, tenho que passar um tempo com meu irmãozinho
garanhão.
Os dois ficam um
tempinho ali brincando depois disso Diogo corre pra se preparar pra ir ao médico.
Ele ainda não esta bem, mas precisava fazer aqueles exames. Se ele pudesse
mostrar exames saldáveis para a empresa do irmão talvez aquilo lhe rendesse um
emprego e uma oportunidade de mudar de vida e ajudar seu irmão a manter a casa
. Então Diogo estava super-disposto, a fazer aquele check up toparia ate mesmo
passar no urologista se necessário. Como sempre foi muito azarado ele sempre estava
preparado para o pior. Ainda bem que era só mais um exame de vista. Era algo
extremamente comum pra alguém que usava óculos desde seis ou sete anos como
ele.Mas aquele exame estava sendo demorado demais. O rapaz foi colocado em
maquinas pra examinar os olhos que até então eram desconhecidas pra ele. Uma
porção de médicos e exames computadorizados. Ainda bem que eles haviam
conseguido um encaminhamento medico ou jamais teriam condições de poder pagar
toda aquela fortuna. Mas talvez os outros exames estivessem sendo feitos para
ver se ele podia usar lentes de contato como Diogo passara a desejar. Sem os
óculos ele pelo menos só seria magrelo e sardento, mas não seria mais um quatro
olhos.
Porem
aqueles exames todos estavam deixando Diogo tenso. Tanto que suas dores de
cabeça já estavam começando a voltar. Algo peculiar que acontecia pós-dores era
a impressão que o rapaz ficava de estar enxergando menos. Ele nunca havia
comentado aquilo com ninguém, mas iria aproveitar a consulta para esclarecer
aquilo tudo com o médico. Finalmente depois de uma bateria de exames Diogo é
chamado pro médico especialista; fazer a ultima avaliação e apresentar o diagnostico.
Diogo mal consegue enxergar o caminho direito, devido ao colírio usado para a
dilatação das pupilas.
Diogo entra e o medico
não parece estar com uma cara muito boa:
_Não sou só eu que não
estou enxergando direito. Pensa Diogo. Enquanto o medico prepara os exames e
começa a falar sobre os resultados:
_Diogo, os seus exames
não apresentam um resultado muito positivo.
_Ãh, Como assim
doutor?
_Bem você já deve ter
reparado que a sua visão tem piorado bastante esses últimos dois anos.
_Bem eu sei, mas... Eu
pensei que isso fosse normal para quem tem miopia e..
_è que você não tem
miopia. Ou pelo menos não tem só miopia. Você tem Ceratocone e ela esta em um
grau bem avançado pra a sua idade.
_Doutor não me assusta
desse jeito, eu vim aqui só pra fazer um exame pra saber se eu posso usar
lentes de contato.
_Você na verdade não
pode usar lentes de contato, você deve usar, tem que usar, precisa usar. Seus
óculos não vão poder te proporcionar uma visão adequada. As lentes poderão
fazer isopor você. Por enquanto você usara os dois, mas a sua visão esta
piorando de uma forma estranhamente rápida e rara. E como você sabe um dos seus
olhos é bem pior que o outro , tem uma grande diferença de graus. E agora os
dois estão piores também. Se continuar dessa forma e mais ou menos dois anos
você vai ficar cego...
_Cego, cego, cego, cego,
cego...
Essas são as ultimas
palavras que Diogo ouve da boca do medico. Ele fica tão apavorado que não
consegue entender mais nada. Diogo esta ali, mas parece que seu espirito esta bem
longe de seu corpo. O medico continua falando, mas nenhuma daquelas palavras parecia
fazer sentido na mente do rapaz. Ele só consegue ouvir uma voz no seu
subconsciente dizendo:
_Vou ficar cego? Vou
ficar cego? Cego...?
O medico chama a
assistente e essa o acompanha ate a saída. E lhe diz suas lentes de contato
chegarão em, no máximo cinco dias. Aquilo infelizmente não tranquiliza o pobre
rapaz. Ele dá um sorriso forçado em forma de agradecimento ao ato de gentileza
da moça e vai embora atônito e desorientado. O rapaz anda, mas não consegue
sentir mais o chão sob seus pés. Mas uma vez vem à mente dele aquele estranho
sonho que vinha perseguindo-o há semanas. Ele vaga pela cidade meio louca, meio
bêbado, insano, depressivo, meio irado meio tonto. Pessoas gritam com ele pelas
ruas e calçadas e ele quase é atropelado varias vezes. Ele chega ate mesmo a
ser assaltado e quase batem nele. Mas nada disso importa. Ele vai ficar cego.
Cego!
Diogo de repente começa a chorar e corre pra
fora da cidade, não sabendo se esta triste, irado, louco, em transe. Ou se
aquilo ainda faz parte do maldito pesadelo que tivera. Ele só quer uma coisa agora.
Ele quer estar morto. A morte é o único refugio para aquela alma atormentada.
Poder ver o mundo, poder ler escrever, pintar, era as únicas coisas que ainda
davam alegria a ele. Perder tudo isso seria pior do que morrer para ele. No fim
da cidade havia um penhasco, Diogo morria de medo de altura, mas de alguma
forma tinha chegado ali. Na beira do precipício . Ele se esquece de tudo. Parece
o sonho dele mais uma vez. No sonho ele parecia cair sem nunca atingir o chão.
Mas ali ele iria atingir. Era real. Mas quem iria se importar? Ele volta um
pouco corre pula pra sua morte. A queda é certa. É o fim de Diogo Rafael.
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